quinta-feira, 24 de julho de 2014

364-Água em pauta, em JF

Punição para desperdícios de água ultrapassa os limites da liberdade dos indivíduos, uma vez que as contas são pagas pelos consumidores. Ou será que já estamos num socialismo bolivariano?

O projeto de lei que proíbe a lavação de calçadas e fachadas públicas, residenciais ou comerciais, com o intuito de evitar os desperdícios de água tratada, e que havia sido encaminhado para sanção do Executivo, retorna à Câmara para aprofundamento da discussão.
O texto prevê, também, que em casos excepcionais, como acidentes naturais, haveria a necessidade de solicitar consentimento à Cesama, a qual emitiria uma autorização em até 48 horas.
Todos nós entendemos que o uso comedido da água tratada deve ser levado a sério, considerando as dificuldades por que passam os reservatórios brasileiros.  Embora o fornecimento de água pela Cesama seja cobrado pela quantidade consumida, ou seja, o que se gasta é o que se paga, a criação de uma lei para evitar desperdícios seria um tratamento mais coercitivo aos consumidores de água do que um simples método de “conscientização”. É justamente nesse ponto que está havendo grande contestação do povo, que já está cansado de ser penalizado. Não é à toa que o projeto de lei, ainda na Câmara de Juiz de Fora, foi retirado de pauta, para novas discussões.
Uma forte campanha de esclarecimento se faz necessária nas sociedades democráticas, seja nas próprias contas de água ou por outros meios de comunicação em massa. Ninguém, por mais infantil que seja, fica brincando de lavar calçadas! Urinas e fezes de animais estão espalhadas à vontade por todos os lugares, o que sugere que seja também incluída na campanha de conscientização. “Se a lavação se faz necessária, não haverá punição”, diz o texto do projeto. Então, significa dizer que o morador não é capaz de julgar se é necessário ou não lavar a calçada? A que ponto chegou! Solicitar autorização à Cesama para uma lavação de calçada já é meio caminho andado para o totalitarismo. A população está sendo bombardeada de tudo que é lado, pela fúria punitiva das esferas de poder.
Evidente que essas não são medidas populares, que venham favorecer o povo. Que fique bem claro que os vereadores não foram eleitos para massacrar a população. É um erro considerar base de cálculo para 500 mil moradores (população total de Juiz de Fora) desperdiçando água. E os que moram em apartamentos? Na realidade, são muito poucos os que lavam calçadas, à exceção dos estabelecimentos comerciais e das residências onde as calçadas são verdadeiros depósitos de lixo e fezes.
Se em três municípios paulistas lei similar já está em vigor, não significa que os outros sejam obrigados a seguir o mesmo caminho. Há métodos de conscientização que não sejam pelas leis.
Quando alguém faz uma lavação é porque o local está sujo, imundo, e aí entra em jogo a luta pela qualidade de vida e pela beleza da cidade. Um projeto que penaliza todos, em detrimento de alguns que utilizam a água de forma irracional, não merece crédito.
Entendemos, sim, que devemos economizar no consumo desse precioso líquido, entretanto, há um limite que todos sabemos aonde chegar e não há necessidade de intervenção do poder público para isso.
Que me desculpem os ambientalistas e vereadores, mas a criação desse projeto significa uma gritante intromissão na vida dos cidadãos, característica de regimes bolivarianos.

Celso Pereira Lara

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