A vinte dias do maior
evento esportivo, cujas obras para construção e reforma das arenas exigiram um investimento
de cerca de 30 bilhões de reais, as ruas permanecem com as mesmas
características: pálidas e inseguras.
Afinal, haverá manifestações durante o evento? Esta
é uma pergunta que continua sem resposta entre os brasileiros. A expectativa é
sombria e cada um lança o seu palpite a respeito do que poderia ocorrer naquele
momento.
Apesar de tudo, parece mesmo que desta vez a alegria
pela participação da seleção brasileira não será como as anteriores, tão
barulhentas de satisfação. As ruas ficarão de luto, ao invés de vestirem as
cores verde e amarelo. Nunca se viu tanto desânimo da população brasileira,
causado pela descrença no governo. É uma questão política e não esportiva. 
Na verdade, não há clima de festa nem motivos para
colorir as ruas. O que se ouve é que muitos estarão torcendo pela derrota da
seleção brasileira, como forma de mostrar a indignação pelos desperdícios bilionários
com a Copa. 
Com as manifestações de rua nos dias que antecedem
os jogos da seleção, ou mesmo durante a Copa, os políticos detentores de
mandatos estarão expostos a todo tipo de contestação. Uma delas poderia ser a
questão que envolve a representatividade. Os eleitores estão literalmente
esquecidos pelos eleitos, e as reivindicações do povo não encontram respostas.
Isso deve representar um item da pauta que certamente deverá incomodar a classe
política, ainda mais por estar próximo das eleições. 
O normal das eleições é que elas têm a
característica do imprevisível, apesar da prévia eleitoral aferida pelos
institutos especializados, entretanto, desta vez, uma variável de peso se
apresenta para colocar mais lenha na fogueira das próximas eleições: as
manifestações de rua. 
O rolo compressor da população insatisfeita com o
governo parece estar em "stand by", acumulando forças para serem
usadas no momento adequado. As forças que o governo vai colocar nas ruas são as
militares, ao passo que a população vai colocar a voz. As munições do povo são
as palavras de ordem e as faixas, enquanto as do governo são os cassetetes, as
balas e as bombas. Não se deve confundir com um governo militar.
Se as mobilizações motivadas pela insatisfação do
povo com a realização da Copa não forem suficientes para a derrota nas urnas
dos atuais governantes, as posteriores manifestações seriam exclusivamente
políticas, visando atingir diretamente o governo, o que poderia gerar uma
mudança de comportamento do quadro eleitoral.
Interessante mesmo é que a noventa dias do início
dos jogos, o presidente da FIFA afirmou que ele e a presidente do Brasil não
farão discursos na cerimônia de abertura do Mundial. Parece algo surreal ou
inédito na história da Copa. O motivo da decisão todos já sabem: as vaias.
Durante os jogos, o campo - fora do estádio -
estará fértil para receber as manifestações populares contra o evento, apesar de
o forte aparato policial estar preparado para as situações de conflito. Assim
como nas eleições é imprevisível a vitória de um candidato, a intensidade dos
protestos ainda é um enigma. Não há ninguém, na face da Terra, que seja capaz
de predizer a magnitude dos atos de protesto durante a Copa do Mundo. 
O que teria muita repercussão durante e após os movimentos
seria a exibição de faixas condenando o governo pela volta da inflação, que
ainda continua em ebulição e é motivo de preocupação para todos. Este
certamente seria o grande temor da presidente. Também não ficariam fora de
pauta temas como Petrobras, educação, saúde e segurança. Sem contar com o
agravamento da situação causado pelas possíveis greves dos transportes, dos
professores e das polícias.
Celso Pereira Lara 
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