quinta-feira, 19 de junho de 2014

354-Vaias na Copa

Se a entrada para a abertura dos jogos, na Arena Corinthians, fosse permitida somente aos participantes do Bolsa-Família, ou então somente aos petistas, será que ao menos um deles teria a coragem de vaiar a presidente?

As opiniões que reprovam as vaias que a presidente recebeu na abertura do Mundial de Futebol ganhariam adesões se fossem em outro contexto. Entretanto, há, sim, que ser levada em conta a situação em que o país se apresenta. Um governo que ainda não cumpriu sequer uma de suas promessas de campanha, além de muitas outras ao longo do mandato; que se preocupa somente em efetuar doações a países comunistas; que prefere construir porto em Cuba; que conseguiu quebrar a Petrobras; que gastou mais de 30 bilhões em obras de arenas; que mantém fortes ligações com países ditatoriais; mergulhado de ponta-cabeça em corrupções, e pela afronta ao STF e pelos deboches das condenações dos mensaleiros petistas; enfim, um governo que insistentemente luta para calar de vez a mídia não merece ser respeitado pela população. Não foi com essa finalidade que os brasileiros elegeram o PT. Esse não é o governo democrático tão esperado, por isso está sendo rejeitado pela maior parte da população.
A produção de livros literários contendo expressões de baixo calão é inaceitável pela sociedade, pois eles são considerados ‘lixo literário’. Portanto, não se admite apologia a palavrões nos círculos de livros. Já em outras áreas, como no trabalho, no restaurante ou nas ruas, o uso de impropérios é tão comum que na maioria das vezes a pessoa que profere tais palavras nem se dá conta disso. É tudo muito natural.
Como referencial, podemos citar a atriz Cacilda Becker, uma das defensoras do palavrão: “Quando o palavrão vem dentro de um espetáculo de cultura e atende às necessidades indiscutíveis de esclarecimento do público – em todo o Brasil normalmente culto – faz parte da obra de arte e é absolutamente justificado. Condená-lo é uma atitude, se não hipócrita, ao menos ignorante”.
O escritor Graciliano Ramos, do alto de seu mau humor, teria dito “outrossim é a puta que o pariu”. Fato que teria ocorrido na redação do Jornal da Manhã, ao revisar o texto de um repórter. Verdade ou lenda tem muito a ver com o seu temperamento de pavio curto.
Na Folha de São Paulo, em 8 maio 1993, “Lula xinga o presidente e Eliseu em MG”: ”todo mundo sabe que o ministro da Fazenda, Eliseu Resende, é um ‘canalha’ que tem compromissos com empreiteiros”. Em tom de decepção, chamou Itamar Franco de ‘filho da puta’. Posteriormente, declarou que não teve intenção de ofender o presidente.
Entretanto, em 13 junho 2014, Lula, em evento do PT no Piauí, referindo-se ao xingamento à presidente, declara: “Educação se recebe dentro de casa. Eu nunca tive coragem de faltar com respeito a um presidente da República. Isso é coisa da elite branca e rica de São Paulo”.
“Os palavrões transmitem emoções melhor do que quaisquer outras palavras, por isso eu diria que eles são perfeitos para manifestações e protestos”, diz a especialista Melissa Mohr. Segundo Melissa, esse tipo de palavra “faz com que as pessoas compreendam quão forte é seu sentimento sobre algo, o quanto aquilo significa para elas”. Além disso, estudos têm mostrado que os xingamentos fazem as pessoas se sentirem unidas, como parte de um grupo. “São formas de expressão que ajudam os manifestantes a se sentirem unidos contra o que estão protestando”, diz ela.
O comentarista do SBT, Paulo Eduardo Martins, vai mais longe: “Vaiar chega a ser um ato de civismo: vaiar, não a Dilma mulher, mas a Dilma que representa a incompetência do governo e o autoritarismo que o petismo que nos impor. A cada vaia que Dilma e o PT recebem, a liberdade respira e o país fica mais vivo”.
A verdade é que os palavrões não nasceram por acaso. São recursos usados para prover expressões que traduzem com maior fidelidade nossos mais fortes e genuínos sentimentos. Eles são uma verdadeira válvula de escape. Há o entendimento de que, quando bem aplicado, naturalmente, o palavrão serve.
Há uma frase muito antiga, que expressa a realidade de um governo: “Quando os que mandam perdem a vergonha, os que obedecem perdem o respeito” (Cardeal Retz).
O palavrão é igual a qualquer outro termo de uma determinada língua, e talvez o mais fiel dos vocábulos de um idioma, porque ele vem do fundo dos sentimentos e representa um basta na situação. É, geralmente, a última palavra.
As vaias em forma de xingamento significam uma explosão de sentimentos acumulados pelos acontecimentos imperdoáveis deste governo, e a Copa é a grande oportunidade para externá-las.
A indignação tomou conta da maioria e não dá para esperar o dia das eleições. Respeito e educação deveriam partir do governo para o povo. 


Celso Pereira Lara 

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