segunda-feira, 2 de junho de 2014

350-A Copa que não é nossa

“O legado que a Copa do Mundo 2014 deixará para o Brasil... O brasileiro vai comprar uma cervejinha e torcer pela seleção”.

Assim como a FIFA estará cumprindo, neste 2 de junho, a sua agenda esportiva, ao entregar a taça do torneio à presidente do Brasil, a agenda de manifestações populares de rua já foi divulgada na internet. E a entrega da taça, no Palácio do Planalto, possivelmente, não ficaria de fora da agenda de protestos.
Em cada arena deverá ocorrer movimentos que reivindicam o atendimento de várias pendências do governo com a população. Lógico que o momento é propício para mostrar a indignação do povo, que não aceita os gastos bilionários com a Copa, em detrimento das necessidades básicas dos brasileiros. Se a Copa do Mundo 2014 não estivesse sendo sediada pelo Brasil, as manifestações não estariam acontecendo, e o governo da presidente não estaria sofrendo tanto desgaste político, que certamente se refletirá nas urnas. Evidente que não só por isso, mas também pela desordem econômica, jurídica e ética.
A revolta reprimida do povo será externada nas ruas, durante a festa que o governo preparou com todos os requintes, não para os pobres, mas para a classe média - que uma socióloga petista tanto odeia -, e a classe rica. O evento considerado uma festa do povo, portanto, não é para todos. O povão ficou excluído. Melhor teria sido não aceitar a proposta de sediar a Copa. Mas, se a seleção brasileira for campeã, alguém teria a coragem de dizer que valeu a pena ter gasto mais de 30 bilhões de reais para a construção e reforma das arenas? Que benefícios os estádios trarão para o país, para compensar esse investimento bilionário? O legado que a Copa vai deixar só servirá para aumentar a lista de elefantes brancos brasileiros.
Na época em que foi anunciado que o Brasil seria a sede da Copa do Mundo 2014, o governo do PT ainda estava no início do segundo mandato, e o povo, muito esperançoso, acreditava em todas as promessas de Lula. Mas o que ocorreu até hoje é que nada foi cumprido, a não ser o aparecimento de uma gigantesca onda de corrupções, algumas das quais resultaram em condenações de prisão da cúpula do governo. São 12 anos de governo petista cuidando apenas do aparelhamento do Estado, visando a perpetuação no poder.
A aceitação da Copa, no Brasil, pelo ex-presidente Lula, foi uma decisão acima de tudo política, visando o aumento da popularidade do governo petista, pois ele considera que os gastos são secundários, o que importa mesmo é garantir os votos.
Ontem, no Rio de Janeiro, a presidente, mostrando-se muito popular, chegou a tocar tamborim com a bateria da escola de samba União da Ilha, na cerimônia de inauguração do BRT Transcarioca, enquanto, na rua, um grupo de manifestantes protestava contra a Copa. No evento, eram mais de 150 trabalhadores a aplaudir a presidente, mas ela só não imaginava que os operários deixariam vazar que cada um teria recebido 140 reais para permanecer na plateia, além de café da manhã e almoço. Apesar de ela proibir a presença da imprensa, não conseguiu evitar que tal fato virasse notícia. Plateia comprada é uma prática petista!
Mesmo contra a sua vontade, já virou rotina na agenda presidencial: em todas as cerimônias, ultimamente, as manifestações de protesto também estão presentes.
A toque de caixa, por causa da chegada do presidente da FIFA, duas obras inacabadas foram inauguradas no domingo: a Transcarioca e as reformas dos terminais 1 e 2 do Galeão. No Brasil é assim: para dar ibope, inaugura-se duas vezes o mesmo empreendimento.
Em Minas Gerais, bem ao estilo da diplomacia petista, ao final do discurso dirigido aos alunos do Pronatec, a presidente disse que “o brasileiro vai comprar cervejinha e torcer pela seleção na Copa”. Que fique bem claro: ninguém é contra a seleção brasileira, mas numa Copa rejeitada pela maioria dos brasileiros, quem vai comprar uma cervejinha para comemorar o quê?

Celso Pereira Lara

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