Agora, o governo já pode alardear na mídia o seu grande
feito, como se tivesse atendido a voz das ruas. 
Cortando
na própria carne, superficialmente, lógico, a presidente terá o seu salário
reduzido em 10%. Num derradeiro suspiro, a reeleita mostra que está disposta a
salvar o país da crise que ela mesma se empenhou em construir nos últimos cinco
anos. Mas não sem motivos.
Ao
anunciar o corte de oito ministérios, de três mil cargos comissionados, de trinta
secretarias ministeriais, a redução de 10% dos salários dos ministros e a dança
das cadeiras entre sete ministérios, ela deixa claro que estaria dando início
ao terceiro mandato, buscando melhorar a governabilidade, sobretudo, evitar a
abertura de um iminente processo de impedimento contra seu mandato.
 Com a apresentação dessa minirreforma
ministerial, o que se busca, na realidade, é o retorno da base de sustentação
do governo no Congresso, ao incutir a crença de que, daqui para frente, a crise
seria ultrapassada e o país voltaria a crescer. O Congresso ficou pulverizado
devido aos excessos de autoritarismo da presidente, e ela, neste momento,
reconhece a falta de diálogo e tenta maquiar essa dificuldade em busca de
apoio. Já é alguma coisa, embora tenha sido um passo muito curto - na
realidade, uma decisão muito tímida - para o feito a que se propõe. Por isso,
oposição vai continuar a cobrar mais!
Evidente
que isso deixa sinais de que está disposta a afastar a grave crise que o país
atravessa, mas não é o suficiente. A crise é tão profunda que levaria um bom
tempo para dar sinais de melhora. Mas, no fundo, mesmo, a pretensão maior seria
garantir a governabilidade para aprovação de medidas econômicas amargas. Uma delas
é a volta da CPMF, que, segundo o novo ministro da Fazenda, o objetivo é buscar
uma arrecadação em dobro nesse quesito. 
A
dificuldade que se tinha para aprovação do imposto sobre movimentação bancária
era tão nítida, que agora com a mudança ministerial as coisas parecem se tornar
mais calmas, mais fáceis. Primeiro, a proposta do imposto era de 0,20. Depois, surge
outra proposta com acréscimo de 0,18 para dividir essa arrecadação entre
estados e municípios. Neste instante, o novo ministro surpreende a todos, ao
apresentar a genial proposta de dobrar o imposto, através da movimentação entre
saídas e entradas na conta bancária. Está claríssimo, que se colar, colou! O
Congresso ficaria com a batata quente nas mãos. Poderia aprovar o texto na
íntegra, ou na forma anteriormente apresentada (0,38), contribuindo assim para
a vitória do governo. 
E
o povo, mais uma vez, torna-se refém de políticos que se elegem apenas para se
locupletarem, esquecendo-se de que a população já está sacrificada ao extremo.
A presidente reconhece que houve erros em seu governo, mas isso não lhe dá o
direito de exigir do povo mais sacrifícios para pagar essa conta. Os erros vão
continuar, enquanto os recursos públicos estiverem escorrendo pelas vias
paralelas. O Brasil perdeu totalmente a capacidade de ser um país em
crescimento, em vários sentidos. A crise só pode piorar, porque o governo não
sabe governar.
Celso Pereira Lara
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