sexta-feira, 13 de março de 2020

553-O COVID-19

Fugir para onde?

Pensando bem, até quando vou ficar fugindo do novo tipo de infecção que surgiu na China no final de dezembro do ano passado e a velocidade de sua proliferação já ameaça a população mundial? De epidemia passou rapidamente a pandemia! Tenho que ficar lavando as mãos a todo instante, não posso cumprimentar ninguém por aperto de mãos, andar de ônibus, estar ao lado de quem espirra ou tosse, pegar em dinheiro, sair do Brasil nem pensar, nem ir a manifestações de protesto. Eu teria que viver somente dentro de minha casa, como se dentro de uma bolha?

Então, vou procurar um isolamento de verdade, cem por cento longe dos riscos de contrair o coronavírus. Vou, então, para outro planeta, decidi todo contente! Todo entusiasmado, consegui contratar pela internet uma nave espacial com destino ao planeta Marte. Olha que maravilha! No dia e hora marcados, lá estava eu a viajar para um lugar que não tenha a menor chance dessas doenças endêmicas que habitam nessa Terra.  

Chegando em Marte, eis que me deparo com alguns colegas aposentados, felizes por estarem desfrutando os prazeres da qualidade de vida na terceira idade, longe dos assaltos, do Congresso e do STF. É outro estágio da vida; é a vida que todos deveríamos ter na Terra.

Após uma rápida conversa com meus colegas, dirigi-me à praça para pegar um táxi, conforme orientação de um deles. Para minha surpresa, os táxis eram do tipo Tonk Tonk, nome dado à charrete de um só lugar para sentar, puxada por um chinês, muito usada na China. A praça, bonita e grande, estava tão repleta de pessoas que até parecia uma manifestação contra os políticos de lá. Só faltava essa! E num olhar mais atento, pude notar que uma parte era composta por chineses e a outra por italianos, todos alegres, rindo alto e contando piadas de ex-presidentes brasileiros. Pensando comigo mesmo: mas que diabos eu vim fazer aqui? Talvez tivesse ido a um planeta mais distante...

Nesse momento, um filme começou a rodar em minha cabeça. Lembro que a nave espacial, pelos escritos em sua fuselagem, era de fabricação chinesa, e que a tripulação de bordo era, lógico, composta só por chineses. Eu aqui, no meio da praça, entre um monte de italianos e chineses, que vieram me cumprimentar e dar boas-vindas. Alguns tossindo e outros espirrando em cima de mim, sem aquelas regrinhas básicas amplamente divulgadas nas redes de televisão pelos profissionais da saúde no Brasil.

Imediatamente peguei um Tonk Tonk e pedi para me conduzir até a nave espacial, que poderia me levar de volta para a Terra, e que afinal de contas é um planeta nem tão perigoso assim, apesar da pandemia. Ao chegar lá, a nave já havia saído e só voltaria de 30 em 30 dias. Não sei se o temível coronavírus teria piedade de mim durante todos esses dias de espera da nave! Só sei de uma coisa: o arrependimento tomou conta mim.

Comecei a me desesperar. Não é possível que isso seja verdade! Já eram 6h da manhã... acordei dentro da bolha... aqui na Terra.

Celso Pereira Lara

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